domingo, 2 de maio de 2010



“Numa tarde de fevereiro, ao cair do dia, nessa hora em que as cores se tornam incomparavelmente brilhantes por ação de contrastes entre as luzes que se atenuam e as sombras que se intensificam, minha atenção foi para a beleza da relação entre as várias gamas de amarelo que estavam na cor de um barranco cortado para dar passagem a uma rua de subúrbio do Rio de Janeiro, a grama queimada pelo Sol e arbustos calcinados.

Extasiado pelo efeito da harmonia dos tons que iam do amarelo puro à coloração da terra de sombra queimada permaneci algum tempo a contemplar essa paisagem. De repente, chegou uma mulher e estendeu no varal três lençóis brancos, precisamente sob meu campo visual, a uns 50 metros de distância.

Em dado momento, os lençóis e alguns papéis brancos que se encontravam no chão pareceram banhados por um violeta intenso, sem que houvesse nenhum elemento dessa cor que pudesse influenciá-los, nem nas proximidades, nem na atmosfera, pois o azul do céu era límpido.

Tive naquele instante a imediata intuição de que se tratava de um fenômeno físico e não de uma ilusão ótica, e se conseguisse reproduzir num quadro as mesmas relações cromáticas, surgiria sobre o fundo branco da tela uma cor inexistente, que não fosse pintada, isto é, quimi-camente sem suporte” Israel Pedrosa